sábado, 18 de abril de 2015

Páscoa – Passagem/travessia para a liberdade

“É fácil ter religião e professar a fé em Jesus. O difícil é ter espiritualidade e a fé de Jesus

(Frei Betto)

Viver a vida, sonhar com a liberdade, experimentar o sabor da eternidade, acreditar na ressurreição da carne e um dia raiarmos na Jerusalém celeste é a utopia mais atualizada no coração humano. A festa da Páscoa nos atualiza e nos recorda a magnitude dessa força da liberdade e libertação.

Na sua tradição mais remota junto aos hebreus, essa festa tem um caráter de passagem do Egito (terra da escravidão) sob o reinado de Ramsés II em 1250 a.c. para Canaã (terra da fartura) “onde corre leite e mel”. Simbolicamente significa travessia da escravidão para a liberdade, do pecado para a graça, das trevas para a luz, da morte para a vida.
Com a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo no segundo testamento, como nos diz o padre Alfredo J. Gonçalves (Jesuíta e assessor das pastorais sociais), revela:

No espaço ao mesmo tempo breve e infinito que vai da sexta-­feira santa ao domingo de Páscoa, entrelaçam se duas dimensões que nos acompanham não somente neste período litúrgico, mas durante toda a vida. Do berço ao túmulo, cruz e ressurreição cruzam e recruzam nossa existência. Representam dores e esperanças, ilusões e desilusões, sonhos e fracassos... Enquanto a primeira nos mantém com os pés firmes no chão dos embates humanos, a outra nos dá asas para voar em direção a uma eternidade cujos vislumbres transparecem durante o percurso do ‘Verbo que se fez carne’ Assim, o mistério da encarnação transforma a antiga em Nova Aliança”.

 Porém somos encobertos com a força comercial, que o mundo capitalista nos impõe, tornando tudo e todos um produto, uma mercadoria. Vivemos, como nos apresenta a igreja no Brasil com a CF 2015 sobre o serviço cristão na sociedade e o Papa Francisco salienta para o mundo, na transitoriedade, no consumismo e no descartável.
Os ovos de chocolates, coelhos, viagens e ilusões de ceias fartas que esquecem á genuinidade da Páscoa hebraica e da atualização em Jesus Cristo, que totalizam a perspectiva do Ser e não do Ter. Como hodiernamente podemos iluminar a partir da renovação da vida, da coragem de mudar, da luta em favor da vida, do impulso á fraternidade, da luta contra toda sorte de sofrimento, as relações sociais tão desiguais?
O caminho parece-me que é do encontro, da relação, do coração de peregrino, lutar para que cada dia mais gente seja gente de fato e de direito. Viver em constante libertação, crer na vida sempre vencendo a morte, confiar na organização e força dos empobrecidos e abraçar a causa de Jesus com a fé de Jesus. E aí assumo também o que nos diz o tão conhecido companheiro Frei Betto:

“A fé esvazia o sentido da ressurreição de Jesus quando não se pergunta pelas razões de sua morte. Ele não queria morrer, suplicou a Deus, a quem tratava com intimidade relacional de filho para pai, que afastasse dele aquele cálice de sangue. Teve medo. Refugiou-se numa plantação de oliveiras. Preso, não negou o que fizera e pregara, e pagou com a vida a sua coerência. Assassinaram Jesus porque ele queria o obvio. E este obvio é tão obvio que, ainda hoje, muitos fingem não enxerga-lo: vida em plenitude para todos (joão 10,10)”.

Vamos nesse domingo 05/04/2015 vivenciarmos realmente com vigor e coragem a transformação da opressão para a plenitude do reinado de Deus, vamos experimentar o sabor e o saber da esperança viva do projeto novo de sociedade com base nas relações fecundas e irmanadas do evangelho de Cristo. Crê na força viva da Civilização do Amor. O Senhor Ressuscitou! Aleluia, aleluia, aleluia. E agora? Vamos...


Ulisses Willy Rocha de Moura.
Professor de sociologia, Biblista e Assessor da PJMP da Paraíba.

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